terça-feira, 30 de junho de 2009

O Brasil cabe em São Paulo. Será?

Estou com um sério problema de identidade.
A despeito do que dizem meus registros oficiais, às vezes creio não ser brasileiro. Felizmente, para voltar a sê-lo, basta-me desligar a TV!
É quase incrível (só não chega a ser porque vejo e ainda me espanto todos os dias) como o noticiário que se diz nacional só fala em São Paulo.
É o trânsito.
A alta dos preços.
Flagrante de assalto.
Um desconhecido encontrado morto... sempre em São Paulo.

São Paulo não tem um noticiário local?
Se realmente não tem, o Fala Brasil da Record bem que poderia se chamar Fala São Paulo. Fica aqui a sugestão.

Confesso que cheguei a ficar feliz em ver a cobertura da greve dos professores e o confronto com a polícia. Enfim, uma notícia de lá que interessa ao país.
De resto, tudo não passa de um monte de qualquer coisa apenas para perpetuar a grande metrópole como o umbigo do Brasil.

Mas isso não é nada!

Insuportavelmente nauseante mesmo é assistir a um jogo de futebol narrado pela equipe de paulistanos da Band.
Nossa! Ainda bem que os jogos do Brasileirão acontecem fora do horário de almoço. Um não-paulista um pouco mais atento aos comentários poderia ter um treco.
Parece jogo da Seleção! Os times de São Paulo tem a o-bri-ga-ção de ganhar. As falas se completam, sempre no sentido de ajudar o time do Brasil, digo, da capital... quero dizer, da metrópole... ah, você entendeu... como se os jogadores pudessem ouvir os conselhos e realizar um jogo perfeito.

E se o jogo for do Corinthians? Caramba! Aí vira praticamente um Brasil X Argentina! O Neto, então, ah!... esse perde totalmente a compostura. Com aquele sotaque quase (infelizmente, quase) ininteligível, ele dispara críticas vorazes a qualquer um que se atreva a não ser corintiano. Nem o árbitro (ou principalmente ele) escapa.

No último jogo do Corinthians que tentei acompanhar pela TV, logo no início do jogo, um corintiano fez uma falta dura, até merecedora de cartão amarelo, embora não tenha levado nada além de uma bronca do árbitro. O paladino alvi-negro disparou, imediatamente: "Quero ver quando fizerem uma falta no Ronaldo, se ele vai usar o mesmo critério". Confesso que ainda não consegui atingir a compreensão de tão profundo comentário.

Se os paulistanos são os verdadeiros brasileiros, que somos nós, outros, então?
Devemos aprender a falar sempre no gerúndio, com um "i" no meio de tudo?
Será que nosso destino é virarmos uma legião de atendentes de telemarketing?

Perdoem-me os paulistanos mas, particularmente, prefiro desligar a TV.
E continuar baiano. E brasileiro, muito brasileiro.

Ah! Faltou falar da Vênus Platinada, não é?
Poxa... foi mal.
É porque a essa, meu amigo, já tem muito tempo que desisti de tentar assistir.

Quem sou?

Na boa... dá um desconto. Isso aí eu escrevi aos 17, 18 anos, não lembro bem, mas como foi um grande amigo que me pediu, então estou postando.


"Quem sou eu,
que vibro românticos acordes no assobio dos meus lábios?
Quem sou eu,
que sorrio as mais belas estrelas encontradas no meu céu palatino?
Quem sou eu, este homem
que canta inocente e ardentemente, como a tristeza do ocaso presente,
com todo o ar dos seus suspiros?
Quem sou?
Um homem, um deus, um tolo?
Serei eu as noites repletas de relâmpagos e trovões que acendiam as naus perdidas?
Serei eu o sonho dos negros – Liberdade!- perdido na remota crueldade?
Quem sou?
Um homem, um deus, um tolo?
Quem sou eu,
que choro por saudosos olhos,
Olhos que murmuravam carinhos e reluziam verdades?
Quem sou?
Sou deus? Sou tolo?
Quem sou eu que grito um nome humano, de mulher, de amada?
Sou deus? Tempestade?

Apaixonado, simplesmente.

Mais nada."

Retrato

Nada melhor para iniciar meu blog do que a poesia que fiz para minha Preta. Não é lá essa limonada toda, mas como ela jura de pés juntos que gostou, então lá vai:

"como pintar a preguiça
que te prende num abraço, à cama,
apenas porque chove quando amanhece?
como pintar o suspiro
que soltaste quando, mesmo com sono,
não consegues dormir porque te ocupas em admirar?

como pintar o grito
que, por vergonha, não gritas
quando a distância te incomoda?
e o nó em tua garganta,
quando um olhar e um sorriso
roubam-te as palavras?

como pintar o tempo e o espaço
quando qualquer noite é muito curta
e qualquer cama muito pequena...
e o suor que te cega
quando o prazer te arrebata?

não há tinta para isso...

pois tal cena
só quem ama consegue enxergar."


sérgio sales.